Qual a importância da recuperação da frequência cardíaca após exercício?
Provavelmente você já passou por uma situação na qual estava se exercitando e o coração parecia que estava na boca ou até mesmo fez um exercício e só depois que terminou sentiu aumento da sua frequência cardíaca, certo?
Esses sintomas já foram estudados e tem explicação científica, por isso, nesse texto abordamos a relação do Sistema Nervoso Autônomo com o exercício e como a recuperação da frequência cardíaca pode ser uma das formas de avaliar a retomada ao equilíbrio.
Como é a divisão anatômica do Sistema Nervoso Central?
O Sistema Nervoso Central é responsável por receber e transmitir informações para todo o organismo.
Ele tem 2 funções centrais:
- Integração do ser vivo com o ambiente;
- integração interna do próprio organismo (homeostase)
Anatomicamente ele é dividido em 2 partes:
- SNC (Sistema Nervoso Central)
- SNP (Sistema Nervoso Periférico)
Cada um desses sistemas tem componentes que serão responsáveis por ações específicas. Observe, na imagem abaixo a divisão:
Obviamente é um sistema complexo e cada componente tem sua função muito bem definida. Nesse texto, focaremos no Sistema Nervoso Autônomo que atua dentro do Sistema Nervoso Periférico.
O que é o Sistema Nervoso Periférico?
O Sistema Nervoso Periférico (SNP) tem a função de ligar o SNC aos órgãos do corpo e fazer o transporte de informações, nele encontramos nervos e gânglios nervosos.
De acordo com a atuação, o SNP subdivide-se em Sistema Nervoso Somático e Sistema Nervoso Autônomo, que é o que falaremos hoje.
O que é o sistema nervoso autônomo?
Podemos entender todo o Sistema Nervoso Central como uma engrenagem e, por isso, entende-se que o sistema nervoso autônomo atua de modo integrado com o sistema nervoso central.
Ele atua sob a musculatura lisa e cardíaca sendo responsável por ações involuntárias, ou seja, controle de atividades de independem da nossa vontade. Por exemplo: atividades realizadas pelos órgãos internos.
Sua função é regular as atividades orgânicas, garantindo a homeostase do organismo. E, quando em desarmonia, apresenta relação com diversas doenças cardiovasculares.
Ele apresenta duas subdivisões que ocorrem de maneira equilibrada quando nos referimos a indivíduos saudáveis:
- Sistema Nervoso Simpático: estimula o funcionamento dos órgãos; é formado pelos nervos espinhais da região torácica e lombar da medula.
Os principais neurotransmissores liberados são a noradrenalina e a adrenalina.
- Sistema Nervoso Parassimpático que inibe o funcionamento dos órgãos; é formado pelos nervos cranianos e espinhais das extremidades da medula.
O principal neurotransmissor liberado é a acetilcolina.
Sistema Nervoso Autônomo e a prática de exercício
Tendo em vista os conceitos apresentados previamente, agora vamos entender como é a relação do Sistema Nervoso Autônomo com a prática de exercício.
Vamos analisar 2 cenários diferentes:
- Indivíduo em repouso: tende-se a ter uma maior atuação do ramo parassimpático sob o coração, o que mantem a frequência cardíaca em níveis mais amenos.
- Indivíduo praticando exercício físico: surgimento de importante demanda cardiovascular e surge a necessidade de alguns ajustes para voltar ao equilíbrio.
A combinação da diminuição da modulação parassimpática e aumento da modulação simpática realizam esse processo.
Observação: importante ressaltar que esses reajustes ocorrem em conjunto com outros mecanismos como o mecanorreflexo e metaborreflexo, por exemplo, sendo estes ativados por meio das movimentações musculares.
O que acontece quando começamos a nos movimentar?
As alças autonômicas, dentre outros mecanismos, modulam a resposta da frequência cardíaca em repouso e frente ao esforço. Ou seja, a medida que começamos a nos movimentar e que a intensidade do exercício aumenta a proporção de trabalho delas também mudam.
Em seguida, após a redução da intensidade e volta a calma, os ajustes também ocorrem, e nesse momento a alça parassimpática tem um grande papel logo após o término do exercício físico.
Como avaliar a volta ao equilíbrio pós exercício?
Uma das possibilidades de avaliação desse momento é por meio da recuperação da frequência cardíaca após o termino do exercício físico.
Essa medida apresenta relação com mortalidade e expressa o funcionamento da reentrada do ramo parassimpático após o termino do esforço.
A literatura demonstra alguns trabalhos que avaliaram a frequência cardíaca após o termino do exercício físico e aqueles que recuperam menos batimentos, apresentam maior risco de morte ao longo do tempo. Como realizar:
- Utilize um cardio frequencímetro;
- Anote a frequência cardíaca no primeiro minuto após o termino do exercício físico;
- Subtraia do valor final ao termino do exercício físico.
- Resultado: valor dos batimentos que diminuíram naquele minuto, quanto mais batimentos melhor.
Sendo assim, podemos observar que quanto mais rápido a frequência cardíaca volta aos valores basais, melhor é para saúde do indivíduo, o que em parte pode representar um bom ajuste autonômico frente a estímulos desafiadores ao organismo.
Para finalizar!
Quando utiliza-se a frequência cardíaca como medida de avaliação pós exercício é importante considerar idade, gênero, condições físicas, composição corporal e contexto geral do indivíduo. Toda vez que iniciamos um exercício existe uma movimentação dos nossos sistema e preparo para nos fornecer todas as funções vitais necessárias para executar a ação.
Lembrando que uma forma de melhorar o controle autonômico é realizar a prática de exercícios físicos regularmente.
REFERÊNCIAS
Arai, Y., Saul, J. P., Albrecht, P., Hartley, L. H., Lilly, L. S., Cohen, R. J., & Colucci, W. S. Modulation of cardiac autonomic activity during and immediately after exercise. American Journal of Physiology-Heart and Circulatory Physiology. 1989; 256(1), H132-H141
Cole CR, Blackstone EH, Pashkow FJ, Snader CE, Lauer MS. Heart rate recovery immediately after exercise as a predictor of mortality. New England Journal Medicine. 1999; 341: 1351-7.